[2] René Dreifuss, Ed. Espaço e Tempo, 1986, RJ

[3] Como se Interpenetram o Conselho de Relações Exteriores, o Círculo Bilderberg, e a Comissão Trilateral, pag. 37. Vozes, 1986

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[4] Original Mass Comunication and American Empire, Beacon Press, 1969. Edição brasileira, Vozes, 1976

[5] Ibidem, pags. 97/98. Este autor se baseia em R. Tyler, Television Around the World, Television Magazine, Out. de 1966; em E. Blum, Brazil’s Yankee Network, The Nation, 29 de Maio de 1967; citando ainda Variety, 14 de junho de 1967, pag. 45.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[6] Original The CIA and the Cult of Intelligence, Knopf, N.Y., 1974. Publicado no Brasil pela Nova Fronteira.

[7] Llewellyn Publications, St. Paul, Minnesota, 1986, pags. 147, 154. O Autor refere-se à cooperação entre Reinhard Gehlen e Allen Dulles, o que deve significar diversos grupos de inteligência, incluindo os S.S. e S.D., além dos grupos de pesquisa científica avançada, não necessariamente ligados à Gestapo (Polícia). Dulles tornou-se Diretor da CIA somente em 1953 (Vice-Diretor em 51). O General Reinhard Gehlen, membro do Estado Maior alemão, um dos melhores especialistas de inteligência da S.S., anti-comunista, arquiteto da ação militar no front russo, foi convidado por Truman, junto com seus homens, a ingressar na CIA em 1947. Posteriormente fundou e dirigiu o ramo alemão da CIA na Alemanha Ocidental (utilizando seus velhos arquivos sobre os russos do tempo da S.S.), até 1967, quando se aposentou, indo morar numa bela mansão que lhe foi presenteada na Bavária.
Matrix III, Valdamar Valerian, 1992, LEADING EDGE RESEARCH, Yelm, Washington State.

(V. Valerian é o pseudônimo do Capitão John Grace, ex-membro do AIR FORCE OFFICE OF SPECIAL INVESTIGATIONS, um grupo de inteligência e pesquisa de alta tecnologia da Base Aérea de Kirtland, Novo México. Como civil, ele fundou o LEADING EDGE RESEARCH, que distribui as coletâneas de documentos Matrix, que são cópias amalgamadas de textos que incluem textos de inteligência, jornalísticos, científicos, e de depoimentos civis sobre os projetos secretos de alta tecnologia e controle político. Alguns dos textos civis são anônimos, enquanto que algumas interpretações políticas estampadas parecem demasiado fáceis. Os textos jornalísticos entretanto, assim como as intepretações científicas, são bastante consistentes.)

 

O GOVERNO INVISÍVEL

Ciro Moroni Barroso

Tribuna de Petrópolis

25/Abril e 02/Maio/1993 [notas, 1999]

O Governo Invisível é o título do livro de dois jornalistas e acadêmicos norte-americanos, Thomas Ross e David Wise, lançado em 1964, em seguida ao trauma do desaparecimento de John Kennedy. [1] O livro narra a história da criação, expansão e hegemonia da Agência Central de Inteligência (CIA) dentro dos negócios de estado norte-americanos. Criada em setembro de 1947 pelo Presidente Truman (democrata), junto com o Conselho de Segurança Nacional e o Departamento de Defesa, para auxiliar os dois últimos e o Presidente, fornecendo informações de política exterior, cedo a CIA se tornou um poder independente. A espionagem interna e externa ilimitada, o planejamento de golpes de estado em países do Terceiro Mundo, e a manipulação de fundos financeiros fabulosos, fizeram a fama da Agência nos anos 50 e 60. Em dezembro de 1963 seu criador, o ex-Presidente Truman, revelou em artigo de jornal o quanto estava "preocupado" com o modo pelo qual a CIA vinha “se afastando de suas atribuições originais” ao ser utilizada “para executar ações clandestinas em tempo de paz”.

[1] No Brasil, lançado com este título pela Civilização Brasileira, 1965

Entre 1947 e novembro de 1950, quando foi dirigida pelo Vice-Almirante Hillenkoeter, a CIA se ateve a seu papel constitucional de prestar informações estratégicas ao Executivo. O mesmo não aconteceu durante os anos 50, quando, depois de ter sido dirigida pelo General Walter B. Smith foi, em seguida (de 53 a 61), dirigida por Allen Dulles, diplomata, que fizera carreira no serviço secreto norte-americano na Suiça durante a Segunda Guerra. Durante os oito anos do governo Eisenhower (republicano), Dulles transformou a CIA num império com interesses políticos particulares, quando a articulação política e de inteligência da Agência se sobrepôs às funções do Pentágono (Dep. Defesa), do Conselho de Segurança, e finalmente da Presidência.

O império que resultou ao final dos anos 50 da aliança entre a CIA e as principais empresas norte-americanas, entre elas a Rand Corporation, a ITT, a ATT, o grupo Time-Life, a General Eletric, a Westinghouse, assim como a Standard Oil e o Chase Manhattan, do grupo Rockefeller, entre outros, é a origem do conceito de um “governo invisível” na vida política norte-americana. A aliança do Diretor da CIA, Allen Dulles, com Nelson Rockefeller, e com as diversas lideranças empresariais, foi uma consequência natural de serem todos eles membros do maior sindicato empresarial de todos os tempos, o Conselho de Relações Exteriores. Fundado em 1921 para dar coerência aos intereses políticos e empresariais da elite norte-americana, o Conselho de Relações Exteriores (um grupo privado, e não uma instituição de Estado) foi dirigido nos anos 20 e 30 pelo grupo de financistas Morgan (ver A Internacional Capitalista [2]). Allen Dulles, Foster Dulles, Nelson Rockefeller, estiveram no seleto quadro de diretores do CRE desde os primeiros tempos. Com a ascensão de Eisenhower à Presidência em 1953, a seu amigo pessoal Nelson Rockefeller é entregue o encargo de reorganizar a comunidade de inteligência para o novo governo. Na condição de principal liderança do CRE, na condição de liderança financeira e empresarial, na condição de liderança dentro do Partido Republicano, a figura de Rockefeller, ao assumir ainda mais a liderança dentro da rede de inteligência, dá bem a dimensão do poder real em formação que resultou no “governo invisível”. A partir de então, e durante todas as décadas seguintes, quase todos os Secretários de Estado, da Defesa, do Tesouro, os Diretores da CIA, e membros do Conselho de Segurança, são também, coincidentemente, membros do CRE, conforme nota Hugo Assman em A Trilateral. [3]

Durante os anos da Guerra Fria, a política exterior norte-americana é marcada pela atuação de Foster Dulles, Secretário de Estado de Eisenhower, com suas doutrinas coloniais, agressivas e de confrontação com a União Soviética. No início dos anos 70, a Guerra Fria é substituída pela détente do Secretário de Estado Kissinger, que fizera carreira no CRE, como secretário particular de N. Rockefeller. Nos anos 70, a CIA ainda está patrocinando golpes de estado com ajuda empresarial, a exemplo do golpe contra Allende em 1973, com a ajuda da ITT.

No campo político interno, a força do Conselho de Relações Exteriores se mostra com a fundação, em 1973, da Comissão Trilateral, para administrar a vida política dos empreendimentos capitalistas norte-americanos, europeus e nipônicos. Idealizada por David Rockefeller e Zbigniew Brzezinski a partir do grupo secreto de consultas internacional Bilderberg, o qual era por sua vez uma criação do CRE, a Comissão Trilateral começou a trocar, desde o início, simpatias mútuas com o jovem Governador democrata do Estado da Georgia Jimmy Carter, o qual havia tomado a iniciativa de abrir escritórios comerciais de seu Estado na Europa e no Japão. Quando da eleição de 1976, é o candidato democrata que os trilateralistas decidem apoiar, e não o candidato republicano. Jimmy Carter se elege, e vários de seus assessores diretos são do CRE e da Trilateral, entre eles o Vice, Walter Mondale, Brzezinski, Assessor de Segurança Nacional, Cyrus Vance, Secretário de Estado, etc.

No campo internacional uma das consequências da política do governo invisível, a formação de um Império Norte-Americano das Comunicações, é sentida no Brasil através de um exemplo muito conhecido. Num livro de 1969, lançado no Brasil com este título, [4] o autor Herbert Schiller mostra como, no intuito de vender as imagens da sociedade de consumo para todo mundo, empresários e governantes dos Estados Unidos se ocuparam, desde os anos 50, em criar redes de televisão em diversos países, como extensão das principais redes norte-americanas. No Brasil, a escolhida pelo grupo Time-Life para receber “assistência técnica e financeira”, transgredindo ou modificando as leis nacionais, foi a TV Globo, que se transformou com isto em rede nacional. O sucesso da TV Globo não resulta, portanto, conforme o mito corrente, dos méritos da livre iniciativa empresarial, mas sim, conforme afirma Schiller, com antecedência nos Estados Unidos, da “infusão de dólares”. [5]

E insustentável se torna também o mito dos Estados Unidos como uma pátria de autêntico liberalismo...

 

O GOVERNO INVISÍVEL - 2

Tribuna de Petrópolis

09/Maio/1993 [notas 1999]

A invisibilidade do poder secreto norte-americano está em que ele jamais é descrito ou referido como tal nos meios de comunicação. Aquilo que o Governo Invisível é, seu rosto metálico e tecnocrático, se faz entretanto extremamente visível todos os dias: basta ligarmos o aparelho de tevê no canal de maior alcance nacional. O fato de que o Governo Invisível nasceu de uma expansão política da CIA durante a gestão de Allen Dulles nos anos cinquenta deu início a uma interpretação errônea, permanente, de que a CIA seria, até hoje, o centro de todo o poder secreto norte-americano.

Quando tomou posse em janeiro de 1961, John Kennedy herdou, da administração Eisenhower, a operação já em andamento da invasão de Cuba, que ficou conhecida como a invasão da Baía dos Porcos, organizada pela CIA. Kennedy deu luz verde à operação clandestina, ordenando simplesmente que o Pentágono ou quaisquer outras forças militares oficiais se mantivessem afastadas da operação. Depois do fracasso da operação, sob a responsabilidade Allen Dulles, e com os conflitos internos que se seguiram, Kennedy ordenou uma completa reformulação da Agência Central de Inteligência. Dulles ainda ficou no cargo de Diretor da Agência até setembro de 61. Substituído, consta que se tornou rival de Kennedy.

A crise devida ao fracasso da Baia dos Porcos deu origem à imagem de um Kennedy liberal e defensor da legalidade democrática, que teria sido eliminado por uma uma CIA conspiradora e ultra-conservadora, o que não corresponde exatamente às revelações que se tornaram agora disponíveis. Kennedy se elegeu defendendo o crescimento da indústria armamentista, ao contrário de seu antecessor Eisenhower, que era republicano e General, e que fez seu discurso de despedida alertando para os perigos na demanda insaciável do establishment militar-industrial. Para substituir Dulles na CIA, e para agradar aos conservadores, que o acusaram de falta de iniciativa diante de Cuba, Kennedy nomeou John A. McCone, que era empresário conservador, defensor da linha dura contra a União Soviética, e membro do Conselho de Relações Exteriores. Victor Marchetti, que ocupava um alto cargo na CIA, e que se tornou dissidente em 1969, insiste em entrevista a Le Nouvel Observateur em 1975, em que a CIA de McCone não teria motivos para matar Kennedy. Segundo Marchetti, que escreveu um livro (A CIA e o Culto da Inteligência [6]) denunciando as operações clandestinas e assassinatos políticos da Agência, McCone “adorava” Kennedy, porque ele era “um Presidente muito duro, agressivo”, que ordenara várias ações clandestinas no Vietnã e em outros países do Terceiro Mundo.

A CIA de McCone não teria motivos para fazer o atentado contra Kennedy, o que não quer dizer que quadros da Agência, remanescentes da administração anterior, não possam ter sido usados para o feito. O recente filme do diretor Oliver Stone sobre o atentado, deixa claro como parte da rede da CIA, em associação com a Máfia, a Polícia de Dallas, etc, participaram do complô. A razão para o atentado não poderia ser uma simples disputa na orientação política do governo norte-americano, devendo ser necessariamente uma questão crucial, e necessariamente envolvendo o Governo Invisível, que se sentiu ameaçado por Kennedy, e que seria a única estrutura capaz de “bancar” o atentado. Governo Invisível que a esta altura crescera muito além de sua estrutura inicial baseada na CIA de Allen Dulles.

O crescimento do Governo Invisível se deu em vários sentidos, cujo histórico está começando a se tornar conhecido hoje em dia, mas cujo relato é espinhoso, e até perigoso. Um aspecto importante é revelado pelo autor norte-americano George Andrews (Extraterrestrials Among Us [7]), quando assinala que Allen Dulles (que estabeleceu o acordo de rendição com os alemães, na condição de chefe do serviço secreto americano na Suiça) integrou grande parte da rede da derrotada Gestapo [segundo Andrews; mais provavelmente os SS] no processo de formação da CIA, “sem o conhecimento dos cidadãos norte-americanos”. Este aspecto vem à tona de maneira sintomática no filme de Oliver Stone, quando um agente da CIA, no filme o ator Donald Sutherland, faz revelações pessoais ao Promotor que reabrira as investigações sobre o atentado ao Presidente. Lembrando os bons tempos em que os espiões eram patriotas que ajudavam alegremente a derrubar republiquetas pelo mundo afora, o ator Sutherland abre um sorriso patético, e comenta que antes o fascismo – “estava lá fora”, mas que “agora, está aqui mesmo, dentro da América”.

É curioso como, depois do atentado, Allen Dulles é chamado para compor a comissão que fará as investigações sobre o mesmo, junto com Earl Warren, Presidente da Suprema Corte, e Gerald Ford, Presidente do Congresso, por nomeação de Lyndon Johnson. A idéia de que o atentado a Kennedy é devido a alguma razão nebulosa e inexplicável permanece até hoje (depois que a apresentação de Lee Oswald como bode expiatório foi desmascarada), o que é bem sinal da influência desse poder “invisível”, que articulou o golpe de estado interno de novembro de 1963 nos Estados Unidos